Dama de Prata

Dama-de-Prata é o nome que dei àquela mulher que sabe reconhecer seus limites mas luta para sempre manter seu espaço e suas vitórias independente das batalhas que terá que enfrentar.

terça-feira, agosto 22, 2006

Quando a violência te deixa só...


A violência hoje nas grandes cidades nos deixa assim como Manuel Bandeira descreveu há muito tempo e ele nem sequer imaginava o quão acuado e solitário o homem atual estaria.

Profundamente
Por Manuel Bandeira

Quando ontem adormeci
Na noite de São João
Havia alegria e rumor
Estrondos de bombas
luzes de Bengala
Vozes, cantigas e risos
Ao pé das fogueiras acesas.
No meio da noite despertei
Não ouvi mais vozes nem risos
Apenas balões
Passavam, errantes
Silenciosamente
Apenas de vez em quando
O ruído de um bonde
Cortava o silêncio
Como um túnel.
Onde estavam os que há pouco
Dançavam
Cantavam
E riam
Ao pé das fogueiras acesas?
— Estavam todos dormindo
Estavam todos deitados
Dormindo
Profundamente.
*
Quando eu tinha seis anos
Não pude ver o fim da festa de São João
Porque adormeci
Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo
Minha avóTomásiaRosa
Meu avôTotônio Rodrigues
Onde estão todos eles?
— Estão todos dormindo
Estão todos deitados
Dormindo
Profundamente.
Texto extraído do livro "Antologia Poética - Manuel Bandeira", Editora Nova Fronteira – Rio de Janeiro, 2001, pág. 81.
Visite a página de textos ilustrados. Manuel Bandeira: sua vida e obra estão em BIOGRAFIAS.

Ilustração: Majane Silveira


(texto retirado do site http://www.releituras.com.br)